Sunday, April 12, 2009

Só no outro dia pude ver a entrevista que o neurocientista António Damásio deu à RTP. Foi bastante interessante (mais as respostas de Damásio do que as perguntas de Judite de Sousa) mas destaco para este artigo uma pergunta em especial que reflete uma crença vigente na nossa sociedade: a de que existem pessoas que tomam decisões eminentemente racionais e outras eminentemente emocionais. Este foi o “erro” que Damásio assacou a Descartes, mas é algo que ainda não faz parte do tecido cultural desta sociedade, que tende para a relativização de todo o conhecimento científico. Toda e qualquer decisão é percentualmente formada de razão e de emoção e assim não há “pessoas racionais” ou “pessoas emocionais”.

Os ateus (e também os cientistas) são normalmente catalogados pelos religiosos como máquinas frias de racionalidade, a quem a contemplação do belo não podem senão aborrecer e que dariam tudo para extirpar qualquer resquício de emoção do mundo. Não é bem assim e vá-se lá saber porquê! A racionalidade defendida por mim enquanto ateu, é a de aplicar o máximo de vezes possível, o crivo da prova e da demonstração científica à informação que vou recebendo. É com ela que me movo no mundo e que tomo decisões…convém que seja verdadeira.E daí, o facto de saber que somos um primata resultante da evolução dos sistemas vivos no planeta, e de conhecer os mecanismos básicos que regem a nossa fisiologia e o nosso comportamento, não retira qualquer da admiração que sinto pela vida e pelo universo. Não lhe retira qualquer beleza.

A demonização do conhecimento é de facto uma das estratégias de sobrevivência das religiões, e é um dos motivos que levam hoje à despromoção do conhecimento científico a nada mais do que uma “maneira de olhar para as coisas tão válida como outra qualquer”. Seja qual for o prisma que se escolha para analisar a crença religiosa, é claro que esta está imiscuída de imoralidades quer nas acções quer nos conceitos.

Os cientistas e os ateus também são seres humanos e temos todos basicamente as mesmas ferramentas emocionais, que são inseparáveis da inteligência. A vida de um ateu, não é mais pobre emocionalmente do que a de um cristão mas talvez seja mais verdadeira. Como Edward Gibbons escreveu, referindo-se às religiões no mundo romano, elas eram « consideradas igualmente verdadeiras pelo povo, igualmente falsas pelos filósofos, e igualmente úteis pelos poderosos.»


1 comment:

Unknown said...

Pelo que tu escreves ou sou uma péssima católica (mas esforçada) ou não sou bem uma mulher de ciência. O que de útil eu retiro da minha experiência como católica são conceitos de natureza moral/ética. Os dogmas de fé sempre me causaram dúvida (sim, apesar de recitar o Credo com o máximo de convicção cada Domingo).
Se calhar o Prof. António Damásio classificar-me-ia como um produto acabado da esquizofrenia.

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