CÓDIGO I

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O cinzento é o ascetismo da cor. Tal é o seu valor simbólico na linguagem usual, e a este símbolo alude Goethe. Ser cinzento é o mais que a cor pode fazer quando quer renunciar a ser cor; em vez disso, a vida é uma árvore verde - o que é uma extravagância - e, além disso, essa árvore verde da vida acaba por ser dourada, o que é uma extravagância maior ainda. Esta elegante vontade de retirar-se sobre o cinzento frente à maravilhosa e contraditória extravagância cromática da vida leva-nos a teorizar. Na teoria trocamos a realidade pelo seu espectro, que são os conceitos. Em vez de vivê-la pensamo-la. Quem sabe, não obstante, se sob este aparente ascetismo e distanciamento da vida , que é o estrito pensar, não se oculta uma máxima forma de vitalidade, o seu luxo supremo! Quem sabe se pensar na vida não é acrescentar ao ingénuo vivê-la um magnífico anseio de sobrevivência!

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Ortega y Gasset - O que é a Filosofia