Sunday, April 19, 2009
Tuesday, April 14, 2009
Numa altura em que Obama surge como uma lufada de ar fresco na América, no que toca ao tratamento das questões religiosas, surgem movimentações preocupantes e retrógradas na Europa. Tem vindo a crescer uma corrente de apoio à candidatura de Tony Blair a presidente da Comissão Europeia, isto na altura em que o Blair se tornou um evangelista da fé.
Ainda há cerca de um mês num artigo publicado online pela New Statesman, Tony Blair finalmente revela todo o seu fanatismo religioso. Perfeitamente deslumbrado pelo poder das religiões no mundo, Tony Blair assume pela primeira vez que a sua fé (católica) foi sempre uma parte importante da sua política. Em 2007, altura que saiu de Downing Street, Blair converteu-se ao catolicismo - renunciando à Igreja Anglicana - e tem revelado em doses crescentes a importância da religião no seu pensamento político.
Mais preocupante do que isto, são as propostas que o Sr. Blair e a sua fundação têm para a resolução dos problemas que a religião causa no mundo: resumindo em duas palavras, MAIS RELIGIÃO:
Tony, que pôr as 6 principais religiões a dialogar, e a respeitar-se mutuamente. Para isto criou um programa inter-religioso de distribuição de redes mosquiteiras para evitar o contágio por malária. De certeza que o próximo passo, depois de irradicar a malária será o HIV. Qual será então a estratégia? Suponho que podemos esquecer a distribuição de preservativos ou a educação sexual.
Tony, quer fazer uma espécie de intercâmbio religioso entre crianças de várias fés (como se isso existisse), mostrando-lhes que existem outras crianças com crenças tão inacreditáveis como as suas, mas igualmente verdadeiras!
Por último Tony, quer criar uma movimento intelectual, apoiado num curso multi-universitário, em que se explorará a relação entre a religião, a economia, a sociedade e a política, e como as grandes fés religiosas poderão contribuir para moralizar o sistema capitalista numa altura de crise financeira. Se isto não é um programa político no mínimo assustador, então não sei o que será.
Há quem louve a inteligência do senhor Blair, mas este artigo é uma prova em contrário e mostra uma enorme displicência em relação aos reais desafios que um mundo multi-religioso apresenta.
Convido-os a ler o artigo por inteiro, porque é completamente esclaredor. Pessoalmente o que mais me assusta, é a ingenuidade deste homem, que nos últimos anos tomou decisões que mudaram o curso da história e que não se apercebe que estes foram precipitadas por actos bárbaros praticados em nome da religião. E é assim há milhares de anos!
Why we must all do God, Tony Blair
A sua participação no Daily Show em 2008, altura em que começou a lecionar uma cadeira de fé e globalização é também bastante interessante!!! As reacções pueris dele às perguntas de John Stewart são reveladoras de uma total incapacidade para explicar algumas das decisões que tomou. parte 1; parte 2
Ao artigo de Blair, Richard Dawkins respondeu com bastante humor e inteligência, publicando também um artigo na Newsweek, em que deixa a nu a completa infantilidade das propostas de Blair.
The Tony Blair Foundation, Richar Dawkins
Sunday, April 12, 2009
Só no outro dia pude ver a entrevista que o neurocientista António Damásio deu à RTP. Foi bastante interessante (mais as respostas de Damásio do que as perguntas de Judite de Sousa) mas destaco para este artigo uma pergunta em especial que reflete uma crença vigente na nossa sociedade: a de que existem pessoas que tomam decisões eminentemente racionais e outras eminentemente emocionais. Este foi o “erro” que Damásio assacou a Descartes, mas é algo que ainda não faz parte do tecido cultural desta sociedade, que tende para a relativização de todo o conhecimento científico. Toda e qualquer decisão é percentualmente formada de razão e de emoção e assim não há “pessoas racionais” ou “pessoas emocionais”.
Os ateus (e também os cientistas) são normalmente catalogados pelos religiosos como máquinas frias de racionalidade, a quem a contemplação do belo não podem senão aborrecer e que dariam tudo para extirpar qualquer resquício de emoção do mundo. Não é bem assim e vá-se lá saber porquê! A racionalidade defendida por mim enquanto ateu, é a de aplicar o máximo de vezes possível, o crivo da prova e da demonstração científica à informação que vou recebendo. É com ela que me movo no mundo e que tomo decisões…convém que seja verdadeira.E daí, o facto de saber que somos um primata resultante da evolução dos sistemas vivos no planeta, e de conhecer os mecanismos básicos que regem a nossa fisiologia e o nosso comportamento, não retira qualquer da admiração que sinto pela vida e pelo universo. Não lhe retira qualquer beleza.
A demonização do conhecimento é de facto uma das estratégias de sobrevivência das religiões, e é um dos motivos que levam hoje à despromoção do conhecimento científico a nada mais do que uma “maneira de olhar para as coisas tão válida como outra qualquer”. Seja qual for o prisma que se escolha para analisar a crença religiosa, é claro que esta está imiscuída de imoralidades quer nas acções quer nos conceitos.
Os cientistas e os ateus também são seres humanos e temos todos basicamente as mesmas ferramentas emocionais, que são inseparáveis da inteligência. A vida de um ateu, não é mais pobre emocionalmente do que a de um cristão mas talvez seja mais verdadeira. Como Edward Gibbons escreveu, referindo-se às religiões no mundo romano, elas eram « consideradas igualmente verdadeiras pelo povo, igualmente falsas pelos filósofos, e igualmente úteis pelos poderosos.»